sábado, 29 de novembro de 2014

Esho Funi

 
Inseparabilidade da Vida e seu Ambiente
O budismo expõe a relação entre a vida humana e seu meio ambiente (Esho Funi). Um ser vivo e seu ambiente são dois fenômenos independentes, porém unos em sua existência fundamental.
 
Literalmente, Esho Funi tem o seguinte significado: Esho é a combinação das primeiras sílabas de E-ho e Sho-ho. Shoho denota o sujeito, dotado de vida, ou algo que realiza as atividades associadas à vida. Eho denota o objeto que apoia o Shoho. Portanto, Shoho são os seres vivos e Eho, seu meio ambiente. O primeiro pode ser comparado ao objeto, e o segundo, a sua sombra, sendo portanto evidente a impossibilidade da existência isolada de qualquer um deles.
 
Funi significa dois como fenômenos, porém, não dois como números. Esho Funi significa que um ser vivo e seu ambiente são dois fenômenos independentes, porém unos em sua existência fundamental. É inegável o fato de o homem e seu ambiente serem inseparáveis; porém, Esho Funi não é uma mera explicação da relação inseparável entre os dois. Significa sim que um ser vivo e seu ambiente formam uma vida única e completa, nenhum pode existir separadamente.
 
Uma passagem das escrituras budistas diz: "Sem a vida, o meio ambiente não pode existir...", ou seja, a vida e seu ambiente são dois aspectos integrantes de uma mesma entidade. O ambiente, que abarca todo fenômeno universal, não pode existir exceto numa dinâmica relação com a atividade internamente gerada da própria vida.
O presidente Ikeda escreveu: "Cada vida é individual e, enquanto se manifesta neste mundo, a particular existência formada simultaneamente configura um meio ambiente com o qual seja compatível. Para ver a verdade disso basta olhar a circunvizinhança de uma pessoa particular, pois - nesse meio - podemos distinguir claramente todas as inclinações e características da sua vida. Se tentarmos imaginar um ser humano sem meio ambiente, estaremos falando de nada, configurando-o místicamente.
 
"Na medida em que a vida estende sua influência à circunvizinhança, o meio ambiente automaticamente muda de acordo com a condição da vida. Então, o meio ambiente que é um reflexo da vida interior dos seus habitantes - sempre adquire as características dos que nele existem." (Vida - Um Enigma, uma Jóia Preciosa, Editora Record, 1993, pág.173.)
Conforme exposto acima, uma pessoa que vive em meio à guerra e agonia nunca poderá dizer que se encontra no estado de Alegria. A condição interna da vida de uma pessoa manifesta-se em seu ambiente, e o ambiente reflete a vida de quem o habita.
Nesse contexto, podemos concluir que a harmonia é um fator essencial para a vida. Assim, a questão mais importante é gerar essa harmonia através das fontes de energia e sabedoria existentes dentro de nós, tendo como base o respeito pela dignidade da vida.
Desenvolver ou fazer reflorescer o respeito, a amizade, o amor, etc. -- sentimentos essenciais para a relação homem - homem, homem - ambiente - é essencial para que se possa criar essa harmonia.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Sansho Shima


Três Obstáculos e Quatro Maldades
 
Uma categorização de diferentes obstáculos que dificultam a prática do budismo. Eles estão relacionados no Sutra do Nirvana e no Daitido Ron.
 
Os três obstáculos (Sansho) são:
 
1 - Bonno-sho: Obstáculo dos desejos mundanos, ou obstáculos que provêm dos três venenos da avareza, ira e estupidez.
 
2 - Go-sho: Obstáculo do carma, ou obstáculo proveniente do mau carma criado por cometer qualquer um dos cinco pecados capitais ou dez maus atos. Esta categoria também é interpretada como oposição das esposas ou dos filhos.
 
3 - Ho-sho: Obstáculo da retribuição, ou obstáculo devido à dolorosa retribuição pela ação dos três maus caminhos. Esta categoria também indica os obstáculos causados por soberanos, pais ou outras pessoas que exercem algum tipo de autoridade.
As quatro maldades (Shima) são:
 
1 - On-ma: A maldade dos cinco componentes, isto é, os impedimentos causados pelas funções físicas e mentais.
 
2 - Bonno-ma: Impedimentos dos desejos mundanos que surgem dos três venenos.
 
3 - Shi-ma: Impedimentos causados pela morte. Devido ao medo e ao sofrimento que ela vincula, pode obstruir a prática do budismo.
 
4 - Tenshi-ma: Impedimento causado pelo Demônio do Sexto Céu. Esta maldade é comumente manifestada na forma de opressão por homens de poder.
 
Tient'ai diz no Maka Shikan: "À medida que a prática e a compreensão aumentam, os três obstáculos e as quatro maldades surgem, competindo uns com os outros para interferir... Se professar o Verdadeiro Budismo, os Sansho Shima surgirão em sucessão. Por esse motivo, jamais deverá ser influenciado nem amedrontado por eles. Se cair sob suas influências, será levado ao caminho do mal e se ficar amedrontado por eles, será impedido de praticar os ensinos do Verdadeiro Budismo." Em "Carta aos Irmãos", Nitiren Daishonin comenta as palavras de Tient'ai:
"Esta interpretação do sutra é aplicável não somente a Nitiren, mas também é o espelho do crente. Respeitosamente, transmita-a às gerações futuras como uma importante lição."
Em outro trecho desta escritura consta: "Se a propagar, maldades surgirão infalivelmente. Se não fossem elas, não haveria modo de saber que este é o ensino correto." (END, vol. I, pág. 239.)
Na Nova Revolução Humana consta: "As maldades absorvem a energia vital e tentam desanimar as pessoas que desejam luta. Às vezes, podem surgir na forma de inveja das companheiras, como no seu caso. Outras vezes, como palavras impensadas de um dirigente veterano ou então atacar um líder da organização na forma de doença. Se ficarmos temerosos em firmar nossa determinação, as maldades tendem a se fortalecer cada vez mais.
"Não há como destruir as maldades senão com o Daimoku embasado em uma inabalável determinação e fervorosa prática da fé." (Capítulo "O Bailar da Coragem", parte 7.)

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Desejos Mundanos são Iluminação

Bonno Soku Bodai
As preocupações são um elemento constante na vida dos seres humanos. Pode ser dito que tal situação é parte intrínseca da vida. Na filosofia budista estas circunstâncias - nas quais os pensamentos e emoções conduzem ao sofrimento e a confusão mental - são consideradas como desejos mundanos.
Mas, o que eles representam ? Basicamente, os desejos mundanos são representados pela avareza, ira, estupidez, arrogância, dúvida e desejos doentios. De forma secundária, inclui devassidão, inconstância e diversos outros tipos de desejos.
Na cultura japonesa, acredita-se que existam cento e oito tipos de desejos. Este número corresponde ao batidas de sino realizadas nos diversos templos japoneses na véspera do Ano Novo. Outra fonte, estabelece o número de oitenta e quatro mil desejos mundanos.
Como os seres humanos são como um ninho de desejos, pode-se afirmar que a forma como lidamos com os nossos impulsos é uma questão de extrema importância em nossas vidas.
Os primeiros três desejos citados acima: Avareza, Ira e Estupidez, são chamados de três venenos. A avareza significa tornar-se um escravo da fome, dos desejos sexuais, do ato de dormir, pela busca fama, entre outros. A ira significa o ódio nutrido pelo indivíduo ou o estado em que estamos sendo controlados pelas nossas emoções impulsivas. A estupidez se refere a incapacidade de compreender a verdadeira natureza das circunstâncias. Assim, se observarmos de forma precisa as nossas vidas, podemos dizer que muitas vezes somos levados pelos três venenos. Além disso, pode-se acrescentar que em inúmeras ocasiões, o nosso sofrimento tem origem no desejo inerente em cada um de nós.
Por esta razão, como devemos lidar com os nossos desejos ? No budismo Hinayana, os praticantes são orientados a extinguirem a causa do sofrimento, que seria a própria consciência. Entretanto, como os desejos são parte intrínseca dos seres humanos, a extinção do desejo representa a extinção da própria vida humana.
Em contrapartida, muitas pessoas encaram os desejos como algo inevitável e incontrolável, deixando-se levar pelos seus próprios impulsos e causando a sua própria destruição, assim como do ambiente ao seu redor. Na sociedade atual, podemos presenciar esta tendência devastadora que está destruindo o próprio planeta.
Qual a visão do budismo de Nitiren referente a esta questão ? Nos seus Ensinos Orais, consta: "Queime a lenha dos desejos mundanos e contemple o fogo da sabedoria iluminada diante dos seus olhos". Nesta passagem, Nitiren declara que o princípio de transformar os desejos mundanos em sabedoria iluminada é a chave para mudança.
A iluminação é interpretada como o caminho, a sabedoria e a realização, isto é, despertar para a verdade e alcançar a felicidade. Em outras palavras, os desejos mundanos se transformam em iluminação no momento em que conseguimos controlar e direcionar os nossos impulsos de forma sábia e concreta e não quando tentamos meramente extinguí-los.
Para isto, é fundamental que sejamos capazes de manejar os nossos impulsos ao invés de sermos controlados por eles. Por exemplo, uma pessoa de temperamento agitado pode direcionar esta característica para algo positivo, como lutar em prol da justiça, enquanto direciona os seus impulsos contra a injustiça. Para isto, é preciso que o indivíduo consiga manifestar a sua sabedoria interior visando utilizar os seus desejos como fonte para o seu bem-estar e do ambiente ao seu redor.
No budismo de Nitiren, recitamos o Nam-myoho-rengue-kyo como forma de evidenciarmos a nossa natureza de Buda inata e consequentemente, direcionar os nossos impulsos. Esta ação se assemelha a flor de lótus, que floresce em meio a fétidos pântanos, pois quanto maiores forem os desafios e sofrimentos, maior será o grau de satisfação a ser alcançado.
Finalizando, o princípio de – Os Desejos mundanos São a Própria Iluminação – nos capacita a alcançar uma alegria indestrutível em nossas vidas, pois é uma filosofia que nos proporciona a oportunidade de revitalizarmos a nossa postura diária com relação aos nossos próprios impulsos e como praticantes do budismo de Nitiren devemos edificar uma sólida fé através da recitação do Nam-myoho-rengue-kyo para que possamos manifestar toda a sabedoria de um Buda em nossas ações cotidianas.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Frase do Gosho

" Se deseja compreender as causas do passado, olhe para os resultados manifestos no presente. E se deseja entender os resultados a serem manifestos no futuro, olhe para as causas que faz no presente. "
Gosho " Abertura dos Olhos"

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Continuação do Gosho "Abertura dos Olhos"

Algumas considerações do Pres. Ikeda sobre o Gosho

Essa carta do Buda Nitirem fala sobre a determinação dos devotos do Sutra de Lótus jamais abandonarem a fé.

Aqueles que vivem uma existência vitoriosa e se empenham com o espirito de levantar-se só,
mantendo sempre o ensino correto, são pessoas que não tem o menor arrependimento ou dúvida. Seu estado de vida é como o céu límpido e azul.
Não importa que os Deuses me abandonem, não importa que eu tenha que enfrentar todas as perseguições. Ainda assim darei minha vida em prol da Lei.
Um devoto do Sutra do Lotus é uma pessoa de espirito de luta, que assume como juramento pessoal o grande desejo do Buda e luta para cumpri-lo, mesmo em meio aos grandes obstáculos. Em especial, nesta era dos últimos dias da lei, se não propagarmos o Myoho Rengue Kyo ( a Lei Mística) e se não o ensinarmos a todas as pessoas para que atinjam o estado de Buda, não poderemos cumprir esse grande juramento.

" Eu e meus discípulos, mesmo que ocorram vários obstáculos e maldades, desde que não se crie dúvida no coração, atingiremos naturalmente o Estado de Buda. Não duvidem dos benefícios do Sutra do Lótus mesmo que não haja proteção dos céus. Não lamentem a ausência de segurança e tranquilidade na vida presente. Embora tenha ensinado dia e noite a meus discípulos, todos, criando dúvida, abandonaram a fé. O que é costumeiro no tolo  é esquecer nas horas crusciais o que prometera nas horas normais."

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Abertura dos Olhos

 

  [De acordo com as palavras de Chang-an,]:

“Se a pessoa não tem a benevolência de corrigir o erro de seu amigo, na verdade, ela está agindo como seu inimigo”.

Resumo e cenário histórico
Este tratado é um dos cinco mais importantes de Nitiren Daishonin, no qual ele revela sua verdadeira identidade como Buda dos Últimos Dias da Lei possuidor das três virtudes de soberano, mestre e pais. Em fevereiro de 1272, logo no início do seu exílio na Ilha de Sado, vivendo sob severas circunstâncias, Daishonin concluiu este tratado em dois volumes e endereçou-o a Shijo Kingo, um dos seus principais discípulos em Kamakura.
Nitiren Daishonin experimentou uma série de adversidades na inóspita Ilha de Sado; a condição precária de sua cabana não o protegia do vento nem da neve; faltava-lhe alimentos, roupas e materiais para escrita. Além de seu sofrimento físico, ele ficou profundamente abalado ao saber que vários de seus seguidores de Kamakura haviam abandonado a fé. Sentindo que a morte constantemente o ameaçava, Daishonin redigiu este tratado com o propósito de encorajar seus discípulos como se fosse seu último desejo e testamento.

O título “Abertura dos olhos” significa capacitar as pessoas a enxergar a verdade; em outras palavras, libertá-las das ilusões e das visões distorcidas e despertá-las para que compreendam o correto ensino e seu correto mestre.

                                                                    Explanação

A benevolência é a essência do budismo; ela expressa a condição iluminada do buda e é a base da ação do bodhisattva. Em outras palavras, a benevolência consiste em plantar a “semente do estado de Buda” na vida das pessoas, ou seja, vai além da atitude de preocupar-se simplesmente com o bem-estar delas. Um outro aspecto dessa benevolência é o de refutar rigorosamente as calúnias à Lei, pois não se consegue compreender o princípio de “atingir o estado de Buda nesta existência” enquanto o seu coração estiver encoberto pela escuridão da ilusão e descrença que as levam a denegrir o ensino correto.
No Sutra de Lótus, a benevolência abarca “o amor e a rigorosidade”, ou seja, ele revela de maneira clara e precisa o verdadeiro meio para que todos atinjam o estado de Buda, mostrando também a rigorosidade com relação à Lei.
A presente frase de “Abertura dos olhos” denota o espírito primordial da prática do Chakubuku que é a máxima benevolência. O ideal de ensinar o budismo a outra pessoa é despertá-la da escuridão da ignorância ou ilusão que destrói seu próprio interior, libertando-a de seu sofrimento fundamental e conduzindo-a para o caminho da felicidade absoluta.
De acordo com os ensinos budistas, quando se comete um mal e não se faz nada para corrigir isso, deixando prevalecer a mentira e a presunção como algo normal, sem que ninguém proclame a verdade, no final, tal atitude conduzirá à decadência moral e espiritual. Em outras palavras, sem uma base espiritual sólida, como a que oferece os ensinos de Nitiren Daishonin, uma religião verdadeiramente humanística, a estrutura da sociedade irá desintegrar-se cada vez mais. (Terceira Civilização, edição no 456, agosto de 2006, pág. 51.)

O pres. Ikeda na Nova Revolução Humana, disse: “O que eu quero solicitar ao senhor é o seguinte: enquanto estiver residindo na Itália, procure criar mesmo que seja um único companheiro e plante as sementes para o bem do futuro do Kossen-rufu. Eu digo isso porque deste ato inicia-se todo o nosso movimento. O maior feito de um homem é criar e deixar um outro que dá seguimento ao seu empreendimento. Quando uma semente germina, ela poderá produzir outras sementes e isto ocorrerá sucessivamente. Tudo se inicia por uma única pessoa. Esta é a importância de prezar as pessoas, um fator essencial para o desenvolvimento do Kossen-rufu”. (Vol. 5, pág. 79.)
Em outro trecho dessa obra, consta: “De qualquer modo, a propagação religiosa inicia-se pela amizade. É respeitando as pessoas que se pode desenvolver o verdadeiro diálogo”. (Ibidem, pág. 84.)
De toda a forma, ensinar o budismo a outra pessoa nos possibilita forjar um estado de vida tão indestrutível como um diamante. Em outro trecho desse mesmo escrito, Daishonin cita uma passagem do Sutra do Nirvana para esclarecer que o benefício da prática do Chakubuku é a conquista de um “corpo de diamante”.

(As Escrituras de Nitiren Daishonin, vol. 4, pág. 215.)
Os Escritos de Nitiren Daishonin, vol. 4, pág. 220
BS – 27 DE JUNHO DE 2009 — EDIÇÃO Nº 1993

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Jikkai (Os 10 estados da vida)

 
Os Dez Estados da Vida, também conhecidos por Dez Mundos, compõem a base da filosofia de vida elucidada pelo budismo. É uma teoria profunda e prática que esclarece, com simplicidade, as complicadas questões da vida.
Os diversos estados da vida, ou reações da vida que se manifestam em resposta às ações externas, foram escalonados em dez categorias básicas: Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranqüilidade, Alegria, Erudição, Absorção, Bodhisattva e Buda. Estes estados não são condições fixas em que uma pessoa terá de viver por toda a sua existência, mas condições fundamentais que existem em forma latente na vida de todas as pessoas, sejam budistas ou não.
O conhecimento desta teoria pode ajudar as pessoas a adquirirem perfeita compreensão e domínio sobre as diversificadas questões da vida, além de fazer com que reconheçam o estado de Buda como a mais suprema condição de vida que as conduz para a felicidade absoluta.
Por outro lado, com a compreensão dos Dez Estados da Vida, pode-se aprender um modo correto de viver como também criar um destino melhor. De uma forma mais ampla, é uma filosofia que ajudará os homens a estabelecer um mundo de humanismo.
A vida de uma pessoa tem ambos os aspectos, positivo e negativo, e está constantemente se transformando de momento a momento. Quando as pessoas tomarem consciência dos potenciais inerentes em sua vida, terão melhores chances de controlar a si mesmos, ainda que sua vida esteja submetida a constantes mudanças. Além disso, com a prática do Verdadeiro Budismo, as pessoas podem obter força e sabedoria necessárias para elevar sua condição de vida nos estados mais baixos, libertando a si próprios de futuros sofrimentos.
Os Dez Estados da Vida não são sentimentos meramente emocionais, espirituais ou físicos. Esses estados estão latentes na vida e manifestam-se do interior de uma pessoa como uma reação imediata e diretamente proporcional às influências externas, negativas ou positivas.
Com a prática do budismo, uma pessoa pode elevar, cada vez mais, o potencial do estado de Buda a ponto de conseguir manter um domínio maior deste sobre os demais estados da vida, não sendo facilmente arrastada à mercê das condições externas da vida. O potencial do estado de Buda possibilita também a manifestação da sabedoria inata que ajuda as pessoas a ultrapassarem as mais duras realidades da vida. Por essas razões, o ato de praticar o budismo é a mais elevada causa que gera os mais elevados benefícios. Este é o motivo básico da recitação do Nam-myoho-rengue-kyo e o motivo de encorajar outras pessoas a fazerem o mesmo.

Coexistência dos Dez Estados da Vida
Este princípio filosófico, também conhecido por possessão mútua, esclarece a inter-relação entre os Dez Estados da Vida. Significa que numa determinada condição de vida coexistem os demais estados na forma latente. Esta teoria confirma o fato de que os estados da vida não são condições fixas, mas que um estado torna-se mais evidente do que outro de acordo com as causas externas que o motivaram, deixando os demais estados na condição não-manifesta.
A importância maior desse princípio é esclarecer que todas as pessoas, mesmo aquelas que se encontram predominantemente nos estados mais baixos, estão dotadas com a suprema condição de vida chamada estado de Buda. Em outras palavras, significa que uma pessoa que se encontra na mais terrível condição de vida possui inerentemente a possibilidade de manifestar o potencial do estado de Buda e alcançar a felicidade absoluta.

Os Estados de Vida
1- Estado de Inferno: É a condição de vida mais baixa entre os demais estados. É um estado de sofrimento constante em que as pessoas não têm forças para influenciar suas circunstâncias de vida, nem esperança com relação ao futuro, não podem fazer nada de que gostariam de fazer, nem mesmo gritar para desabafar suas angústias. Esse incontrolável e inextinguível sofrimento caracteriza o estado de Inferno.
2- Estado de Fome: É caracterizado pela obsessão de realizar os desejos e pela incapacidade de satisfazê-los. Neste baixo estado de vida, as pessoas são completamente controladas e dominadas por seus desejos insaciáveis e por terríveis insatisfações, são infelizes e impedidas de se desenvolverem e prosperarem.
3- Estado de Animalidade: É também um estado baixo de vida em que as pessoas são conduzidas unicamente por seus instintos, agem impulsivamente com irracionalidade e sem moralidade. O critério de suas ações é aproveitar-se dos mais fracos e bajular os mais fortes. As pessoas no estado de Animalidade perdem o sentido da razão, e suas emoções são facilmente dominadas pelo medo e pela covardia. Além disso, não conseguem encontrar soluções nem esperanças e resignam-se diante do destino.
Os estados de Inferno, Fome e Animalidade formam os "Três Maus Caminhos" porque são estados de sofrimento.
4- Estado de Ira: É o quarto mais baixo estado de vida que, associado aos "Três Maus Caminhos", formam as "Quatro Tendências Maléficas". Neste estado, as pessoas possuem consciência de seus atos embora baseados em pontos de vista distorcidos do que é certo ou errado, enquanto no três anteriores não têm controle sobre sua vida pois são dominadas completamente pelos desejos. No estado de Ira, as pessoas preocupam-se única e exclusivamente consigo mesmas, com seus próprios benefícios, pouco se importando com os demais ou com seu ponto de vista. São conduzidas pelo egoísmo e pela ambição de ser superior derrubando outras pessoas.
5- Estado de Tranqüilidade: Esta é uma condição em que a pessoa pode controlar temporariamente seus impulsos e desejos através da razão. Assim, uma pessoa passa a ter uma vida tranqüila e em harmonia com seu meio, que inclui as pessoas e o ambiente. Nesse estado, as energias da vida estão sob considerável controle. Porém, pode cair instantaneamente para os "Três ou Quatro Maus Caminhos" pelo mais leve desvio ocorrido em suas circunstâncias de vida.
6- Estado de Alegria: É uma condição de vida de contentamento que se origina na concretização dos desejos e na solução dos problemas. A alegria nesse estado de vida é efêmera e desaparece com o passar do tempo ou com a transformação das circunstâncias.
Estes seis primeiros estados de vida compõem os "Seis Maus Caminhos". São estados em que as pessoas são arrastadas exclusivamente pelas influências externas, ficando privadas da liberdade de manter autocontrole sobre as circunstâncias de sua vida.
Os próximos quatro estados de vida formam os "Quatro Nobres Caminhos", pois são condições alcançadas pelos esforços desenvolvidos pelas próprias pessoas.
7- Estado de Erudição: É a condição experimentada por uma pessoa quando luta por um estado duradouro de contentamento e estabilidade através da auto-reforma e do desenvolvimento próprio. É o estado em que o indivíduo dedica-se à criação de uma vida melhor através da aquisição de idéias, conhecimentos e experiências de seus predecessores.
8- Estado de Absorção: As pessoas neste estado podem alcançar a percepção parcial de algumas verdades por si mesmas através da observação direta dos fenômenos da natureza.
A Erudição e Absorção compõem os "Dois Veículos" pois conduzem as pessoas para uma certa independência na vida pela percepção obtida da verdade parcial. Contudo, na condição de "Dois Veículos", as pessoas ficam apegadas à percepção para o bem de si mesma e não lutam para beneficiar os outros.
9- Estado de Bodhisattva: Uma pessoa neste estado manifesta uma vida plena de benevolência e sua característica é dedicar-se à felicidade de outras pessoas promovendo ações altruísticas. Esta benevolência difere essencialmente do conceito de caridade ou compaixão, e sua definição exata é "retirar o sofrimento e dar felicidade". A caridade e a compaixão podem aliviar o sofrimento, mas não conseguem retirá-lo nem oferecer a felicidade. A característica maior do estado de Bodhisattva é a busca constante do estado de Buda, ao mesmo tempo em que procura ensinar esse caminho para que as pessoas tornem-se capazes de manifestar a força inerente da vida para conquistarem a felicidade absoluta.
10- Estado de Buda: Constitui-se numa condição de vida em que a pessoa adquire a sabedoria que lhe permite compreender a verdadeira essência de sua vida, manifestar a profunda benevolência para com todas as pessoas e ter a percepção sobre as três existências da vida e sobre a Lei básica do universo. É uma condição de vida no estado de felicidade absoluta que nada pode corromper. Da mesma forma como nenhum estado de vida é estático, o estado de Buda é experimentado no decurso das contínuas atividades altruísticas diárias. Portanto, não se deve considerar o estado de Buda como objetivo máximo a ser alcançado no final da vida.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Como praticar o Budismo 2ª Parte

A base do Budismo de Nitiren Daishonin
é a Lei suprema de causa e efeito.Nam-myoho-rengue-kyo (Nã miô-rrô rengue kiô)
O significado literal de Nam-myoho-rengue-kyo nos oferece uma idéia da profundidade da filosofia budista. Não vamos nos ater a isso, nesse 1º momento. A verdadeira compreensão do Nam-myoho-rengue-kyo só pode ser alcançada com sua prática. Não é por meio de erudição, estudo e entendimento, mas sim pela prática e fé.
Com a sincera recitação do Nam-myoho-rengue-kyo elevamos nossa condição de vida, pois ao recitarmos o Daimoku entramos em contato com o estado de Buda, a nossa energia vital. Esse estado passa a nos acompanhar no dia a dia e assim ficamos quase que automaticamente em sintonia com estados mais elevados de vida, sem mesmo notarmos as suas variações e mudanças.
O budismo nos diz que pensamento, palavra e ação são os responsáveis por cunharmos nossa vidas. Com o nosso Daimoku diário elevamos nossa condição de vida e passamos a pensar, falar e agir com uma positividade que o universo registra... e responde. Negatividades, reclamações, falta de estímulo e outras situações do tipo passam a quase não mais fazer parte do nosso dia a dia.
Bem vamos a parte prática...
Nessa primeira fase, se você ainda não pratica e não tem um grupo fixo de estudos (não existem templos... as reuniões são em casas de budistas mais antigos, é assim ao redor de todo o mundo) sugiro que se faça um "test drive" para vc comprovar a eficácia do mantra. O Gongyo, que é a recitação do Sutra fica para uma outra fase...
Vamos lá:
Escreva num papel uma ou duas coisas que você quer que aconteça. Nada de muito gigante...pelo menos no início, depois vc vai ver que tudo é possível! Você não está pedindo que isso aconteça e sim DETERMINANDO que aconteça, OK?
Duas vezes por dia, de manhã e ao anoitecer, de preferência, pegue essa sua lista, abra, leia, feche e guarde em qualquer lugar. Aí, você vai se sentar de frente a uma parede lisa, sem quadros ou desenhos, de preferência voltada para o Leste. Fixe o olhar num ponto na parede, e procure relaxar a mente e o corpo. Junte os 10 dedos da mão, como em prece (na verdade representa os 10 estados da vida...)
e comece a recitar o mantra, com convicção e voz firme,
sem gritar ou berrar ou sussurar.
Os seus pensamentos vão pular como macaco de galho em galho, não lute contra eles. Concentre-se no ponto da parede e escute a sua voz repetindo o mantra.
Cada vez que os pensamentos vierem, foque na sua voz repetindo o mantra com clareza, ouça o Nam-myoho-rengue-kyo saindo da sua boca, deixe ele ser o seu "guia".
Uma boa idéia é baixar o mp3 do Daimoku (Daimoku é o ato de se recitar o Nam-myoho-rengue-kyo) colocar para tocar e fazer junto.
Faça isso 2 vezes por dia por 6 minutinhos, pelo menos, e em pouco tempo você vai comprovar os resultados na sua vida.
Essa é a parte da prática da introdução, em breve colocarei mais textos informações sobre o Budismo de Nitiren Daishonin.

Vai nessa que é a boa!!!

Nam-myoho-rengue-kyo.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Como se pratica o Budismo de Nitiren Daishonin?


A resposta é: recitando o Nam-myoho-rengue-kyo
A prática dos ensinos do Budismo de Nitiren Daishonin é a recitação do Gongyo e do Daimoku. Gongyo é a recitação de partes do 2º e do 16º capítulos do Sutra de Lótus; e Daimoku é a recitação de Nam-myoho-rengue-kyo. Tudo se resume unicamente na fé. Ela contém a verdade, a coragem, a sabedoria e a boa sorte. Inclui também a benevolência e a humanidade, bem como a paz, a cultura e a felicidade. Fé significa eterna esperança; é o segredo para um ilimitado auto desenvolvimento. A fé é o princípio fundamental para o crescimento. Há vários momentos em que se pode sentir o desejo de orar: por exemplo, para tirar uma nota boa numa prova ou para que faça tempo bom. Mesmo aqueles que não se consideram religiosos rezam por algo. Apenas o fato de desejarem boa saúde para seus filhos, ou de decidirem se desenvolver de alguma forma, também constitui uma oração, ainda que não queiram chamar isso de oração. A oração no Budismo de Nitiren Daishonin – a recitação do Daimoku ao Gohonzon – coloca as nossas diversas orações em fusão com a realidade, tendo como base a Lei universal da vida. Na verdade, o único meio de realmente despertar para essa maravilhosa prática é experimentá-la na própria vida. É impossível compreender a fé ou a vida somente por meio da teoria ou lógica. A vida não é algo abstrato. Deve ser vivida e sentida. É a história que construímos com nossos esforços e lutas em meio a nossa realidade. O Gongyo e o Daimoku representam a cerimônia na qual nossas vidas entram em harmonia com o Universo. O Gongyo é uma atividade em que, por meio de nossa fé no Gohonzon, vigorosamente colocamos em fusão o microcosmo de nossa existência individual com a energia vital do macrocosmo, de todo o Universo. Se realizamos isso regularmente a cada manhã e noite, nossa energia vital – nossa máquina – é fortalecida. O Universo é composto por um incalculável número de partículas elementares: prótons, elétrons, nêutrons, fótons; e também por átomos que compreendem os elementos químicos, tais como hidrogênio, oxigênio e cálcio. Essas mesmas partículas e elementos constituem nosso corpo. Um estudioso sugeriu que " o corpo humano é feito do mesmo material que das estrelas", e denominou os seres humanos de "filhos das estrelas". Nosso corpo não somente é feito da mesma composição do Universo como também é governado pelos mesmos princípios básicos de geração e desintegração e pelo ritmo de vida e morte que permeia o cosmos. Quando fazemos o Gongyo e o Daimoku diante do Gohonzon, o microcosmo de nossa vida individual entra em fusão com o macrocosmo do Universo. Alguém poderia perguntar por que a recitação do Daimoku e a leitura do Sutra trazem benefícios mesmo sem se compreender o significado dos caracteres. Um bebê toma o leite da mãe e se beneficia com esse ato; no entanto, ele faz isso sem conhecer a composição do leite. O mesmo acontece quando recitamos o Gongyo e o Daimoku. Naturalmente, será muito melhor se compreendermos o significado; porém, isso somente nos ajudará a fortalecer nossa convicção na Lei Mística. Contudo, se tal compreensão não for acompanhada da prática, então ela perderá definitivamente seu significado: " Exerça-se nos dois caminhos da prática e do estudo. Sem estes dois, não pode haver Budismo. Não somente o senhor deve se perseverar, mas também deve ensinar aos outros. Tanto a prática como o estudo surgem da fé. Deve contar aos outros com o melhor da sua habilidade, mesmo que seja somente a respeito de uma única sentença ou frase." No Budismo de Nitiren Daishonin, o conceito de "prática" é definido pelo princípio de Jigyo keta, cujo significado literal é "prática individual e prática altruística". A prática individual (jigyo) corresponde à leitura diária do sutra (Gongyo da manhã e da noite) e da recitação do daimoku (Nam-myoho-rengue-kyo), com fé no Gohonzon, visando à felicidade pessoal. A prática altruística (keta) consiste em ensinar os outros os benefícios do Gohonzon e a grandiosidade da filosofia budista. Abrange, portanto, o chakubuku, a orientação, as palestras e quaisquer esforços para incentivar alguém a aprofundar sua fé no Gohonzon. Qualquer filosofia sem a sua prática é uma idéia morta, e a prática sem filosofia não pode ser senão impulsiva e unilateral. O importante é reconciliar a filosofia com a prática, pois a grandeza de uma filosofia somente é reconhecível quando brilha pelo comportamento e experiência da pessoa. Em nosso mundo da fé dedicado à realização do Kossen-rufu, todos os que continuam resolutamente a recitar o Daimoku serão os verdadeiros vitoriosos. Com toda certeza, haverão de desfrutar uma vida de "felicidade absoluta", ou seja, o Estado de Buda. O fundamental é que, compreendendo este único ponto, suas vidas estarão seguras para toda a eternidade. Além do mais, não existe mais nada de especial além do fato de recitarmos Daimoku. É necessário nos tornarmos pessoas de bom senso, corretas e admiráveis dentro da sociedade. De fato, praticamos a fé para nos tornarmos cidadãos exemplares, bons pais, bons maridos ou esposas e bons filhos. É um Budismo que possibilita a elevação do próprio estado de vida, permitindo-nos tornar alguém assim. O Budismo existe para libertar as pessoas, não para restringi-las. O importante é se dedicarem, mesmo um pouco, todos os dias. O alimento que ingerimos diariamente transforma-se em energia para o nosso corpo. Nossos estudos, também, tornam-se um bem valioso quando dedicamos firmes esforços a isso dia após dia. Por essa razão, devemos viver cada dia de forma a nos desenvolvermos continuamente. e a força propulsora para realizarmos isso é o Gongyo. Num certo sentido, não existe uma prática budista mais simples do que fazer o Gongyo e o Daimoku. não temos que praticar estranhas austeridades como em algumas tradições budistas esotéricas. Também no caso de um mecanismo, quanto mais sofisticada for a tecnologia, será mais fácil operá-lo. Da mesma forma, a superioridade do Budismo de Nitiren Daishonin nos capacita a extrair o estado de Buda por meio da prática mais simples. O Nam-myoho-rengue-kyo incorpora o nome e a vida de Nitiren Daishonin. Aquele que recita o Daimoku consegue evidenciar o estado de vida do Buda Nitiren Daishonin dentro da sua própria. Certamente haverá de se atingir o Estado de Buda. Não existem budas que ficam sofrendo eternamente na pobreza. Também não existem budas cruéis ou malvados, como não existem budas fracos que são derrotados na vida. Buda é um outro nome para uma pessoa que está determinada a vencer não importa o que aconteça.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Os oito ventos


“Um homem verdadeiramente sábio não será arrebatado pelos oito ventos: prosperidade, declínio, desgraça, honra, elogio, censura, sofrimento e prazer. Ele não se inflama com a prosperidade nem se desespera com o declínio. Os deuses celestes seguramente protegerão aquele que não se curva aos oito ventos.” EXPLANAÇÃO: Essa é uma passagem das mais famosas, de onde origina-se o título deste Gosho – “Os Oito Ventos” (Gosho Zenshu, págs. 1150-52), Nela Nitiren Daishonin adverte Shijo Kingo a não ser governado por suas reações emotivas e a permanecer firme na fé.
Ao observar a lista dos ‘Oito Ventos’, notamos que podem ser agrupados em duas categorias. Quatro deles – declínio, desgraça, censura e sofrimento – são universalmente considerados indesejáveis. Entretanto, os outros quatro – prosperidade, honra, elogio e prazer – não são considerados somente desejáveis mas também constituem os objetos primários do empenho de muitas pessoas. Daishonin diz, contudo que todos os oito ventos podem ser “ventos” que tiram as pessoas de seu curso, isto é, agem em detrimento de nossas vontades, caso permitamos controlar-nos.
De forma geral, as pessoas tendem a vacilar na fé sob duas condições: quando tudo está indo bem e quando as coisas estão indo mal.
Em épocas de prosperidade, inclinamo-nos a tornar complacentes e perder nossa motivação, permitindo que a nossa resolução esmoreça.
Em períodos de sofrimento, podemos desanimar e abandonar as esperanças. No entanto, se basearmos a nossa felicidade somente em fenômenos externos transitórios tais como elogio ou o sucesso, ficaremos vulneráveis às circunstâncias e não encontraremos nenhuma felicidade duradoura. Nitiren Daishonin ensina aqui que esse modo de viver não é próprio de um “sábio”. Ao invés disso, devemos nos esforçar para desenvolver uma fé sólida o bastante para tornarmo-nos independentes das circunstâncias imediatas favoráveis ou não.
Isto não significa que devemos permanecer desinteressados ou indiferentes às dores e alegrias da vida. Antes, dizendo que um homem sábio “não se inflama com a prosperidade nem se desespera com o declínio” . Daishonin nos incentiva a estabelecer um senso de felicidade e auto-identidade que não podem ser influenciados pelos ventos das circunstâncias. Isto é possível tendo como base a fé na Lei Mística, uma fé que nos desperta para a nossa natureza eterna de Buda. Uma pessoa cuja auto-consciência é seguramente enraizada na dimensão da vida eterna será infalivelmente protegida pelos “deuses celestes”- isto é, ela conseguirá manifestar o poder inato da vida para utilizar todas as circunstâncias externas, sejam boas ou más, de modo construtivo, como oportunidade para aprender e desenvolver-se.

Este é o significado da verdadeira liberdade para um ser humano.
O movimento da Soka Gakkai é justamente para despertar cada indivíduo para a revolução humana e, consequentemente, para o cultivo do lado positivo da vida.
No romance Nova Revolução Humana consta: “Os seres humanos são extremamente complexos, cuja mente altera-se constantemente. Em um momento podemos estar no auge da alegria e, em seguida, cair num abismo de sofrimento ou de incontrolável ira. As pessoas possuem também o sentimento de amar e até de se sacrificar para salvar os outros. Porém, são capazes de odiar, de ter inveja, de dominar os outros e tirar-lhes a vida sem piedade. Se os homens são os causadores de guerras e destruições, são também os construtores da paz. Portanto, o ser humano é a base de tudo, o alicerce do desenvolvimento social. Nosso movimento focaliza a luz em cada indivíduo a fim de despertar a bondade inata e a vida criativa inerente, fazendo com que se torne inabalável diante de qualquer circunstância e que jamais seja dominado pelas ambições mundanas. Nós chamamos este processo de revolução humana’.... O humanismo pregado no budismo não polariza as relações colocando o indivíduo em confronto com as demais pessoas, os seres humanos com as outras espécies de vida e com o seu meio ambiente. O budismo expõe que tudo está inter-relacionado e que somente dentro dessa harmonia é possível criar a felicidade do ser humano. Nesse sentido, poderíamos dizer que é um humanismo que abrange todo o Universo”.
Aprendemos no budismo que, por mais que tentemos culpar as pessoas por nossos sofrimentos e conflitos, tudo reside dentro de nossa vida. Se não houver a causa, não há o efeito.
Aprendemos também que as pessoas com as quais convivemos fazem parte da nossa “inter-relação cármica”.

O sol aquece todas as pessoas igualmente, mas algumas acham que aquece mais o seu vizinho. Antes de reclamar do Sol, que tal verificar se o ar-condicionado não está ligado? Ou seja, antes de analisar as atitudes dos outros, analisemos a nossa. As causas que os outros fazem, trarão efeitos a eles próprios. Cada um deve se preocupar com o efeito de suas próprias causas. Isso é revolução humana.
O primeiro passo é a elevação do nosso nível de vida para podermos extirpar a maldade em nosso coração, cultivando a tolerância e buscando um equilíbrio nas relações com as pessoas que nos rodeiam.
A frase da escritura “Os oito ventos” fala: “Um homem verdadeiramente sábio não será arrebatado por nenhum dos oito ventos; prosperidade, declínio, desgraça, honra, elogio, censura, sofrimento e prazer. Eles não se inflamam com a prosperidade nem se desesperam com o declínio”.
Saber mover gestões mesmo em meio às dificuldades é, na prática, o motor que impulsiona o desenvolvimento.
“No curso da fé e da prática, vocês não devem fazer nada que vá contra o bom senso. Sempre e onde quer que vocês agirem com uma atitude correta na fé, aumentarão naturalmente a sabedoria e obterão um discernimento claro. Com isso, conseguirão alcançar uma existência de mais sucesso e harmonia na sociedade, reunindo uma perspectiva mental ampla e o poder para guiar outras pessoas”.

Portanto devemos discernir corretamente a situação real que está vivendo e evidenciar a sabedoria para descobrir o caminho que conduzirá à solução das dificuldades. E a fonte inesgotável dessa sabedoria é a energia vital e a boa sorte proveniente da firme prática do Gongyo e do Daimoku."

sexta-feira, 23 de maio de 2014

O Gohonzon é somente um pedaço de papel?

1. Um jovem perguntou ao presidente da SGI o que fazer com quem se recusa a orar para um pedaço de papel impresso.

VALOR...
O papel é físico, material. Mas as palavras gravadas nele revelam a fé (a mente, a vida) do Buda Nitiren Daishonin.

INERENTE
O mestre ensina: “Nosso Gohonzon pode ser impresso, mas retém poder inerente. Uma nota de dez reais é impressa, assim como o são os certificados e os diplomas escolares. Todos os documentos importantes são impressos e cada um possui seu respectivo valor” (Diálogo sobre a Juventude, v. 3, p. 62).

TINTA
No Gohonzon está impressa a fé do buda Nitiren Daishonin, fruto da vitória impressionante dele ao sobreviver às perseguições que qualquer outro não suportaria.

UNICIDADE
“O princípio budista da unicidade do corpo e da mente nos ensina que o físico e o espiritual são unos. A vida existe nessa unicidade. O Gohonzon incorpora a vida do buda. Portanto, quando oramos ao Gohonzon não estamos orando para um simples pedaço de papel” (Ibidem, p. 63).

DESCOBERTA
Daishonin achou a chave para destrancar o potencial interior. Ele se utilizou do Sutra de Lótus [a essência da fé do buda Sakyamuni] e praticou e obteve a prova real.

HERDEIRO DA FÉ
“Eu, Nitiren, inscrevi minha vida em sumi (tinta preta); assim, creia neste Gohonzon com a totalidade do seu coração” (END, v. 1, p. 276). Incorporado da maior sabedoria humana, Daishonin provou a força do Nam-myoho-rengue-kyo em si mesmo e descobriu que todos têm a mesma força.

FORÇA INTERIOR
“A alma de Nitiren” está estampada e descrita em letras no Gohonzon e isso significa que há em você um enorme potencial para enfrentar qualquer adversidade. Há em você enorme força interior. Mas onde está essa força e como ela é? É o Gohonzon! Quando falta força e você quer se superar mas não acredita que dá, olhe para o “espelho” chamado Gohonzon e “enxergará” força, sabedoria e alegria de viver. “Olhar” para esse espelho é olhar por meio da fé, ou seja, consiste de recitar e propagar alegremente o Daimoku.

LIVROS
“Os livros também são impressos, porém, quando lemos as palavras de suas páginas adquirimos conhecimento, fazemos novas descobertas e temos novas ideias” (Ibidem, p. 63).

CONFIANTE
Adotar o Gohonzon como objeto de devoção é orar confiante que há em você o estado de vida imbatível do buda. E, assim como o Buda fez, você vai vencer e propagar o Gohonzon porque tem certeza que todos também conseguem: “Nós nos esforçamos para tornar o espírito do nosso mestre o nosso próprio e agimos pessoalmente pelo Kossen-rufu e nos tornamos FONTE DE CORAGEM, ESPERANÇA e PAZ DE ESPÍRITO para os outros” (TC, ed. 539, jul. 2013, p. 60).

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Verdade Budista

"Sofra o que tiver que sofrer, desfrute o que existe para ser desfrutado,
considere tanto o sofrimento como a alegria como fatos da vida e continue orando,
Nam Myoho Rengue Kyo , não importando o que acontecer, e então experimentará a grande alegria da Lei."





"( Nitikan Shonin) - 26º sumo prelado"


Fé de fogo ardente ou agua corrente

"Ao contrário de fé fundamentalista, o que pode ser uma espécie de fervor inquestionável onde até mesmo uma centelha de dúvida deve ser extinto, a fé budista envolve sempre um certo grau de ceticismo e uma vontade de experimentar. Chamamos isso de" busca espiritual. '

No Budismo de Nitiren Daishonin, não seriam dois tipos de fé:.. Fé como fogo e da fé como... a água fluindo Aquele que tem fé como o fogo pode começar a praticar de cabeça, sem dúvidas, a queima de ver e aprender tudo Mas tal uma pessoa queima com freqüência rapidamente e torna-se desencantado quando confrontado com obstáculos, solavancos na estrada da vida, ou prática.

Na prática budista, a fé é essencial, mas o ideal é que seja constante e contínua, como a água fluindo. "

Daisaku Ikeda

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O Dia em que o Buda Nitiren Daishonin Recitou pela 1ª vez o Nan Myoho Rengue Kyo

Rikkyô Kaishu-e

Budismo e as Religiões Afro-Brasileiras



 
 
"..... o diálogo não enfraquece a fé, mas a disponibiliza para encontros que desvelam novas e mais profundas dimensões de sua realização."1 (Faustino Teixeira)

A forte presença das religiões afro-brasileiras



Assim como a cultura indígena, a cultura africana está dentro de nós, brasileiros. Está misturada ao nosso sangue. Circula por nossas veias. Está presente na formação da nossa subjetividade, do nosso eu, nas artes plásticas, na música, na espiritualidade, na produção de alimentos, enfim, em todos os nossos hábitos, costumes e crenças.

Quer ainda marcadas pela sincretização com o catolicismo, quer contaminadas pelo "branqueamento", as religiões afro-brasileiras, muitas vezes reafricanizadas, encontram-se espalhadas pelo Brasil, assumindo caráter de religião universal.

Nesse sentido, podemos citar o candomblé de caboclo e de egum da Bahia (recentemente, com presença marcante em São Paulo); o xangô de Pernambuco e Alagoas; o tambor-de-mina do Maranhão e Pará; o batuque do Rio Grande do Sul; a macumba do Rio de Janeiro; a umbanda, espalhada em todo o território nacional; além de outras — o catimbó, a jurema, a pajelança, que apresentam fortes elementos indígenas e aparecem no Norte, de modo mais expressivo, no Amazonas.

Esta presencialidade das religiões afro-brasileiras em todos os recantos destas "Terras de Santa Cruz" impõe-nos, como seguidores de um outro caminho de espiritualidade, o do Budismo Nitiren, a necessidade de conhecê-las, pelo menos elementarmente. Dessa forma, na convivência com seus membros, adeptos ou fiéis, nossa compaixão com eles não esbarrará nos limites do histórico preconceito a que nos acostumamos ver em razão do sistema escravocrata que tantas cicatrizes deixou no nosso povo.

A sobrevivência, a consolidação e a expansão das religiões afro-brasileiras são a expressão da resistência e da vitória do povo escravizado contra seus opressores. Não ocorreu gratuitamente, fácil, sem luta. Do pujante e vigoroso candomblé da Bahia à pajelança do Amazonas e Piauí, as religiões afro-brasileiras carregam manifestações do sofrimento de um povo heróico, como é o povo negro, que, mesmo sob a opressão, soube preservar suas milenares tradições.

O diálogo possível entre duas distintas visões de mundo



Por ocasião do Encontro Nacional de Representantes de Divisão, em Tóquio, no dia 31 de maio de 2007, Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), na presença de ilustres personalidades acadêmicas russas, revisitando Leon Tolstoi, um dos seus escritores preferidos, reafirma sua convicção de que "o diálogo é a única forma de construir a paz".2 Em 2001, na proposta de paz encaminhada às Nações Unidas, Ikeda enfatiza: "O diálogo tem o poder de restaurar e reflorescer nossa humanidade comum ao liberar nossa capacidade inata para o bem. É um ímã indispensável em torno do qual as pessoas se aproximam e a confiança é fortalecida. Foi o fracasso em tornar o diálogo a base da sociedade humana que produziu as amargas tragédias do século XX".3

Como grande pensador, Ikeda é dos que conseguem relacionar tudo a uma visão unitária e coerente, que funciona como um princípio organizador básico do que pensam e percebem. Em vários dos seus discursos, alinha-se com aqueles que acreditam que as tradições religiosas "guardam um patrimônio único de reverência e respeito pelo mistério da existência e o dom da vida".

Além disso, ele entende que "as religiões podem contribuir para o fortalecimento da solidariedade, do cuidado, da cortesia e da hospitalidade" — valores substituídos pelo egoísmo, pela nefasta competitividade, pela perversa corrida na busca do ter, do poder e do valer.

Do lado de cá do planeta, o emérito professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Dr. Faustino Teixeira, em entrevista sobre a importância do diálogo inter-religioso, afirma: "O diálogo surge como potente voz em favor de todo o criado: dialogar para não morrer e não deixar morrer". E acrescenta: "Outra fundamental dimensão do diálogo que se processa no encontro da experiência religiosa é o momento sublime em que se partilham as experiências de oração, fé e contemplação, na busca singular do Mistério sempre maior. Os que partilham semelhante experiência 'não se detêm diante das diferenças', pois estão animados por um propósito mais decisivo, o de promover e preservar os valores e ideais espirituais mais profundos do ser humano".4

A palavra de ordem do mundo atual, se quisermos, realmente, construir a paz, é substituir a ética do êxito ou das convicções por uma ética de responsabilidade. Isso redireciona o comportamento das religiões, que se encontram num processo de nova reflexão sobre o humano.

Hans Kung, renomado teólogo e filósofo contemporâneo, aponta dois critérios utilizados atualmente para se avaliar uma religião: o positivo e o negativo. Sob a perspectiva do critério positivo, uma religião é verdadeira e boa quando está a serviço da humanidade, no ato de fomentar a identidade, a sensibilidade e os valores humanos, para permitir ao indivíduo a oportunidade de alcançar uma existência rica e plena. Ou seja, precisa garantir o desenvolvimento humano em dimensões psicofísica e individual-social (vida, integridade, liberdade, justiça, paz). O contrário disso (critério negativo) ocorre quando se observa a falsidade e malevolência de uma religião, que provoca desumanidade ao ignorar a identidade, a sensibilidade e os valores humanos. É uma religião que priva o indivíduo de uma existência rica e plena, oprime, fere e destrói os homens em sua dimensão humana psicofísica e individual-social.5

Espiritualidade, mística e religião



Falar sobre religiões afro-brasileiras, sob o ângulo da mística comparada, requer que se tenham claros os conceitos de espiritualidade mística e religião. Buscaremos um caminho que leve à reflexão acerca desses conceitos, assinalando pontos convergentes e divergentes em relação à mística do Budismo Nitiren e das religiões afro-brasileiras.

Não cabe discutir instituições, organizações religiosas, associações civis, estruturas burocráticas e de poder, sedes, templos e terreiros. Essas são apenas estruturas instrumentais, são meios necessários, indispensáveis para que se concretizem os ideais professados pelas religiões; são a materialização de intenções.

O que, na realidade, importa é o coração das pessoas. É aí que reside a espiritualidade. É no coração que se encontra a mística.

Espiritualidade



Espiritualidade convém definirmos no contexto da nossa cultura, dos dramas que estamos vivendo em termos mundiais. O professor e doutor em teologia e filosofia, Leonardo Boff, afirma: "Espiritualidade é aquilo que produz no ser humano uma mudança interior". É um caminho de transformação. E acrescenta: "A espiritualidade vive da gratuidade e da disponibilidade, vive da capacidade de enternecimento e de compaixão, vive da honradez em face da realidade e da escuta da mensagem que vem permanentemente desta realidade. Quebra a relação de posse das coisas para estabelecer uma relação de comunhão com as coisas".6

A espiritualidade é uma dimensão do ser humano. Não é monopólio de nenhuma religião. Nem depende de religião alguma. Embora a religião seja o seu lugar natural.

Diversas pessoas não se filiam a nenhum tipo de religião e, mesmo assim, possuem ou são ricas de espiritualidade.

Enquanto outras, muitas vezes, dirigentes de organizações religiosas, padres, pastores, líderes de instituições, levam uma vida que não pode ser exemplo. Ainda que afirmem professar uma religião, não comprovam sua crença na vida diária. Ao contrário, mesmo exercendo funções de direção na instituição religiosa de que se dizem seguidores, contribuem para maculá-la com suas atitudes nas relações de convivência com os outros. E o mais grave, não aceitam mudar. Negam transformar-se. A postura ético-moral, na sociedade, deixa a desejar, sobretudo em questões afetivas. Na família, é uma desavença só. Esposa reclama do esposo; esposo menospreza, briga e subjuga a esposa; filhos discutem desrespeitosamente com os pais; na vizinhança, ninguém gosta; na organização religiosa, essas pessoas são autoritárias, briguentas, desmerecem a confiança de todos, alimentam-se de competir, disputar cargos, obter prestígio perante os dirigentes hierarquicamente superiores. É um verdadeiro vale-tudo. O que menos demonstram é magnanimidade, benevolência, bondade, amizade, ternura, carinho. Essa falta de espiritualidade impede a harmonia não apenas na vida dessas pessoas como em todo o ambiente que as cerca.

Mística



Mística, seguindo a linha de pensamento de Leonardo Boff, é uma dimensão do ser humano. É o que dá impulso à vida, alimenta as energias vitais para além do princípio do interesse, dos fracassos e sucessos. Tanto a espiritualidade como a mística pertencem à vida, em sua integralidade e sacralidade.

Para Boff, "a mística é a própria vida tomada em sua radicalidade e extrema densidade. Cultivada inconscientemente, confere à existência sentido de gravidade, leveza e profundidade. A mística sempre nos leva a suspeitarmos que, por trás das estruturas do real, não há o absurdo e o abismo que nos metem medo, mas vigem a ternura, acolhida, o mistério amoroso que se comunica como alegria de viver, sentido de trabalhar e sonho benfazejo de um universo de coisas e pessoas confraternizadas entre si e ancoradas fortemente no coração de Deus, que é Pai e Mãe de infinita bondade".7 A mística vem do coração, não da razão.

É por esse motivo que o mundo construído a partir da razão, que teve na filosofia de Descartes e na Física de Newton seus pilares, não deu certo. Ao contrário, mergulhou a humanidade na maior das crises de toda a sua história — a chamada "crise da racionalidade",8 acompanhada de manifestações fenomenológicas de caráter massivo, tais como: vazio, solidão, medo, ansiedade, agressividade sem objetivos, insatisfação generalizada. Nitiren Daishonin, o Buda Original, muito antes e bem distante desta civilização materialista, hedonista e consumista na qual vivemos já afirmava que "o que importa é o coração".

Religião



Carl Gustav Jung entendia a religião como uma atitude do espírito humano. Para ele, tal atitude é responsável por levar o ser humano à consideração e à observação cuidadosa de alguns fatores dinâmicos, como espíritos, demônios, deuses, leis, idéias, ideais. Afirmava que "o termo 'religião' designa a atitude particular de uma consciência transformada pela experiência do numinoso",9 ou seja, inspirado ou influenciado pelas qualidades transcendentais do divino.

Como mestre da psicologia do profundo, Jung atribuía considerável relevância à religião no processo de individuação dos seres humanos à medida que trabalha grandes sonhos e projeta grandes esperanças. Dizia que a religião está na raiz da mística e da espiritualidade. Sobre religião e espiritualidade, Daisaku Ikeda, comentando a fala do narrador e principal personagem de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, diz: "Confesso que fiquei muito impressionado quando me deparei com a afirmação do jovem jagunço Riobaldo, numa trégua de suas lutas no sertão do Brasil: 'Eu queria formar uma cidade da religião. Lá nos confins do Chapadão, nas pontas do Urucuia'. Jamais esquecerei a perturbadora emoção que senti diante desta enérgica expressão, de sonoridade cósmica. Em que lugar do mundo a religião se manifesta de forma tão vigorosamente viva? Reconheçamos que, neste fim de século, as religiões já não têm a mesma força de outrora. Encontram-se enfraquecidas pela torrente da secularização. Estão perdendo a espiritualidade, escondida no íntimo envergonhado das pessoas. Atravessam altos e baixos efêmeros com seus ensinamentos duvidosos. Muitas práticas confundem-se com o ocultismo, ou funcionam como gêiser, cuja energia explode inesperadamente, gerando conflitos sangrentos. A imagem que atualmente se tem da religião é, na maioria das vezes, negativa. Sendo raros os casos, como o de Riobaldo, em que a religião é abraçada como fonte da esperança".10

A espiritualidade que veio da África



Para muitos, cinco milhões de homens e mulheres escravizados vieram da África para o Brasil. Outras estatísticas dão conta de mais de três milhões de negros que foram transportados escravizados da Nigéria, Daomé (atual Benin), Angola, Congo e Moçambique, para o nosso país, nos séculos XVI e XIX. O Brasil foi o segundo maior importador de escravos do Novo Mundo.

Foram milhões de famílias desagregadas, dispersas à força, com seus membros, pais, filhos, maridos, mulheres espalhados pelas mais diversas localidades do Brasil.

A política da colonização portuguesa de dividir para governar levava os portugueses a separar os escravos em diferentes nações.11 Mesmo assim, muitos conseguiram manter alguns laços com sua herança étnica. Embora sejam várias as denominações religiosas afro-brasileiras, conforme vimos, o candomblé e a umbanda são consideradas as mais representativas.

O candomblé, hoje, tornou-se religião universal, reafricanizada, ou seja, libertou-se do sincretismo e decretou o seu retorno às verdadeiras origens africanas.

Já a umbanda, ao contrário, fundada, em meados de 1920, para ser uma religião brasileira, reuniu elementos do candomblé, do catolicismo e do espiritismo kardecista, na tentativa de "branquear" a tradição religiosa africana.

É relativamente recente o fenômeno do aparecimento das religiões afro-brasileiras. Isso porque os negros eram proibidos de praticar outra religião a não ser o catolicismo. O primeiro terreiro de candomblé no Brasil surgiu na Bahia, por volta de 1830.

A periferia urbana brasileira, onde os escravos tinham maior liberdade de movimento, organizando-se em nações, foi o local em que apareceram as novas religiões. Então, espalharam-se por todo o Brasil, tomando diversos nomes: catimbó, tambor-de-mina, xangô, candomblé, macumba, batuque e outros.

O sagrado, a natureza e a cultura oral



Assim como na Grécia antiga, religião, arte, trabalho não se separam na cultura africana. Tudo se funde em um todo integrado que é a vida da tribo.

O sagrado africano descreve a profunda ligação entre o homem e o Cosmo, cuja base é material e concreta. Nota-se que a relação dos africanos com o sagrado se dá em articulação com a natureza e seus elementos (terra, ar, fogo e água). Para expressarem suas dificuldades cotidianas ou milenares, os africanos estabelecem comunicação com os astros, com a flora e com a fauna circundantes. O calendário espiritual é organizado de acordo com as estações da natureza, que delimitam o calendário agrícola e a vida das tribos. Por conseqüência, o espaço natural transforma-se, circunstancialmente, em ritual.

As religiões afro-brasileiras são portadoras de vasta visão de mundo representada pela própria descrição dos orixás.12

No candomblé, a vida é celebrada nas cerimônias anuais, dedicadas a cada orixá; nos rituais de iniciação,13 de nascimento, casamento e nos ritos fúnebres. Aliás, as cerimônias fúnebres têm lugar especial; vinculam-se ao próprio equilíbrio da vida. Acredita-se, no candomblé, que a morte seja como um momento de transformação da vida, não sua extinção. O corpo, após a morte, se reintegra ao Universo, e o espírito continua a revigorar o grupo e o sistema.

Em relação ao sacrifício, como oferenda, ocorre para conservar o equilíbrio entre o plano visível e o invisível, garantindo o fluxo da vida. Muitas vezes, o sacrifício é para aplacar as divindades ou para se proteger dos inimigos. Oferecem-se animais domésticos na crença de que os órgãos internos destes animais possuem forças especiais. O sangue é oferecido como dádiva agradável à divindade.

O círculo que se estabelece entre o adepto, o sacrifício e o orixá visa principalmente a transmitir e revigorar o axé. Oferecendo a vida ao orixá, é o próprio ser humano que permanece revigorado. A vida circula reforçando-se e assegurando, a quem oferece, a realização do ciclo vital, até o alcance da harmonia eterna.

O nascimento dos orixás



Em uma das suas principais obras, o professor e pai-de-santo José Ribeiro assim descreve como nasceram os orixás: "Do consórcio de Obatalá (céu) e Odudua (terra), nasceram os deuses orixás — Aganju, considerado como a rocha; e Iemanjá, representando as águas. Do conúbio (casamento) de ambos, originou-se o orixá Orugã, intermediário entre o céu e a terra. Na ausência de Aganju, Orugã rapta e viola Iemanjá. Esta, aflita e entregue ao desespero, foge à perseguição do filho, e, na alucinação da fuga, tomba morta, nascendo-lhe dos enormes seios, 'duas correntes d'água, que, reunidas mais adiante, formam 'um grande lago'. De seu ventre desmensurado, provieram os seguintes orixás: Dadá (deusa ou orixá dos vegetais); Xangô (deus do trovão); Ogum (deus do ferro e da guerra); Olokum (deus do mar); Oloxá (deusa dos lagos); Oiá ou Iansã (deusa do rio Niger); Oxum (deusa do mesmo rio); Obá (deusa do rio Obá); Okô (deus da agricultura); Oxóssi (deus dos caçadores); Okê (deus das montanhas); Ajé-Xalugá e Ochambin (deuses da saúde); Xapanã (deus da varíola); Orum (o Sol) e Oxu (a Lua)".14

O axé



O axé ou ixé é o objeto consagrado que tem força espiritual.

Quando, por exemplo, termina a iniciação de um filho-de-santo, para provar sua força espiritual, coloca-se um copo d'água na mão, sacudindo-o; a água fica impregnada de influências benéficas, curativas. É o axé.

Os axés são também os amacis, preparados com as ervas dos orixás, destinadas a diversos fins.

O transe na religiosidade afro-brasileira



O transe é um estado psicofisiológico parecido com o sono, caracterizado pela diminuição ou ausência de percepção conscientizável e de resposta aos estímulos do meio ambiente. No transe, a atividade voluntária é substituída por comportamentos automáticos.

O transe é uma característica central das místicas das tradições religiosas da África Ocidental Iorubá, Fon etc., que mais marcaram a religiosidade afro-brasileira. É a tomada do corpo pelo santo (orixá).

Há uma enorme variedade de formas de transe, e o adepto vai introjetando os vários modos de relação com os orixás e voduns ao longo de sua vida, de acordo com os graus de iniciação por que passa.

No transe, o Outro se enuncia em primeira pessoa e sua natureza semiótica não exclui sua dimensão psíquica; ao contrário, a inclui. Um fator muito interessante, que pode ocorrer simultaneamente, é a presença dos sonhos e visões, aceitas, num contexto geral, como mensagens, ou outras formas de contato com os deuses. Em termos científicos, o transe tem se tornado matéria de estudo para a psicanálise, a metapsicologia, a psicologia social psicanalítica e outras.

O "branqueamento" das religiões afro-brasileiras



No final do século XIX, surge no Brasil, proveniente da França, o espiritismo de Alan Kardec. Uma fusão entre a visão cármica do mundo, de origem hindu e preceitos cristãos, acrescido de conceitos racionalistas do século XIX. Esta nova religião imediatamente se firmou no Brasil, tornando-se, no início, uma religião de classe média, embora freqüentada também por pobres e por negros.

A presença dos negros nos centros espíritas do Rio de Janeiro representava, ao mesmo tempo, a presença de tradições do candomblé. Era fator motivador de grandes polêmicas e conflitos nas casas espíritas; isso devido ao modelo de religião ser europeu, o que correspondia à ausência de elementos da religiosidade africana.

Essa situação de conflito abriu campo, em meados de 1920, a uma nova religião: a umbanda. Podia-se entendê-la como a fusão entre espiritismo kardecista, catolicismo, candomblé, além de outros elementos nacionais, como os caboclos e pretos velhos, espíritos de índios e de negros.

A umbanda, por um lado, buscou apagar os traços da cultura africana, presentes em sua formação. Tomou como modelo o kardecismo e procurou expressar ideais e valores da nova sociedade capitalista e republicana. Muitas foram as modificações: a língua vernácula foi adotada; a iniciação, simplificada; e os sacrifícios de sangue, quase totalmente eliminados. Por outro lado, além de manter os ritos cantados e dançados do candomblé, a umbanda seguiu com a idéia dele. Ou seja, com o juízo de que a experiência neste mundo implica a obrigação de gozá-lo, o pensamento de que a realização do homem se expressa por meio da felicidade terrena que ele deve conquistar, questionando, dessa forma, a noção kardecista da evolução cármica (o que somos hoje depende de como agimos numa vida passada).

Colocando-se como uma religião capaz de oferecer um instrumento a mais para apoiar seus adeptos no esforço em mudar as circunstâncias a seu favor, a umbanda oferece a manipulação do mundo pela via ritual. Foi graças à umbanda que as grandes cidades do Sudeste do Brasil conheceram o despacho a Exu, oferenda depositada nas encruzilhadas.

A espiritualidade budista: semelhanças e divergências



Para definir a espiritualidade budista, o professor e doutor Leonardo Boff descreve as diferenças entre os caminhos de espiritualidade ocidental afirmando: "O Oriente fez outro caminho, de certa forma mais grandioso que o nosso, porque mais ancestral e englobante. A primeira experiência que a pessoa, o monge, o professante de um caminho espiritual do Oriente faz é o da totalidade; vale dizer, da unidade da realidade. As coisas não estão colocadas umas ao lado das outras, em justaposição, mas são todas sinfônicas, interligadas. Há uma grande unidade, mas uma unidade complexa, feita de muitos níveis, de muitos seres diferentes, todos eles ligados e religados entre si, num profundo e intenso dinamismo.

Quando o mestre Iogue pergunta: "Quem és tu?", ele aponta o Universo e responde: "Tu és tudo isso, nós somos toda essa realidade, somos parte e parcela do todo, somos o todo".15

"Enquanto o caminho espiritual do Oriente busca a interioridade do ser humano, nosso caminho ocidental busca a exterioridade. Um é o caminho para fora, para a conquista do espaço exterior, alcançando os últimos limites, demandando o infinito do céu acima de nossa cabeça. O outro é o caminho para dentro, pelos meandros de nossos desejos, pela profundidade de nossas intenções, rumo ao próprio coração."16

Podemos assim dizer que existem grandes diferenças da espiritualidade budista em relação à afro-brasileira. A começar, sob o ponto de vista do budismo, pela negação da dualidade corpo-espírito e da existência, em separado, do bem e do mal. Outra relevante distinção é a presença de mediações (orixás) que se põem entre as pessoas e a divindade suprema Olorum. Destaca-se também a presença do transe, fato que não ocorre no budismo.

Por outro lado, a concepção do "eu", a visão da subjetividade, de acordo com o budismo, é bastante parecida com a visão dos africanos. Na espiritualidade budista, o "eu" é sacralizado, ou seja, é a pessoa que possui, como natureza última, sua fonte originária, a natureza de Buda; ela é sagrada, em si mesma, não importando a condição de vida ou os estados de consciência em que se encontre. E, ainda, tal sacralização é estendida a todo o Cosmo. O "eu" possui, ainda, natureza interdependente. Não se constitui de essência própria, inerente a si mesmo.

O africano é um "ser com" e "vive com". Fora da comunidade, sente-se isolado, ameaçado, desamparado e perdido. Encontra sua força vital, seu sentido, seu potencial de ser enquanto se encontra unido a outros, visíveis e invisíveis. Fora da dimensão relacional, só existe confusão e morte. Daí, os princípios éticos dos africanos estarem enraizados em conceitos-chave como vida, solidariedade clânica, força e harmonia.

Outras semelhanças existem entre as tradições afro e o budismo. A maior delas é a visão de mundo profundamente ecológica dos caminhos afro de espiritualidade. Basta observar o nascimento dos orixás. Como está presente a natureza, o Cosmo!

Inclui-se, neste item, a sacralidade da natureza e do Cosmo como uma convergência com a espiritualidade budista.

O próprio axé, energia cósmica que penetra todo o Universo, concentrando-se no ser humano, pode ser associado ao Myoho-rengue-kyo. Esta é a Lei Mística, energia suprema, fonte originária de tudo; a tudo permeia e impregna; está presente não apenas nos seres humanos mas até nas unidades subatômicas do Universo.

Outra semelhança entre os dois caminhos de espiritualidade, aqui postos em paralelo, é a relação mestre e discípulo. Tanto na relação entre o santo de cabeça e seu filho, cuja descrição é parecida com a relação mestre e discípulo do 7º capítulo do Sutra de Lótus, "Parábola da Cidade Imginária,17 como na relação de ternura, carinho, amizade, proteção e cuidado que os pais-de-santo empreendem com seus filhos e filhas. Aliás, este é dos aspectos mais belos do candomblé e é esta relação que, em nossa comunidade religiosa, cada dirigente deve manter com seus membros. Uma relação horizontal, de ternura, cuidado, carinho; acima de tudo, de compaixão.

O presidente Ikeda, ao falar sobre a imperiosa necessidade de sabermos transcender as diferenças em realidades da vida diária, o que significa "atingirmos um estado no qual não somos mais presos nem constrangidos por nossa consciência da diferença", afirma: "Nitiren considera que a essência real da vida 'não pode ser queimada pelas chamas no fim de um kalpa, nem arrastada pelas inundações nem cortadas por espadas nem perfurada por flechas. Ela cabe numa semente de mostarda e, embora a semente de mostarda não possa se expandir, não há necessidade de a vida encolher. Ela enche todo o Universo. O Cosmo não é tão vasto nem a vida tão pequena para caber dentro dele'". 18

Comentando a passagem citada dos escritos de Nitiren Daishonin, explica: "O que é descrito aqui é um estado de vida perfeitamente claro, translúcido, indestrutível e luminoso".19

Pode-se descrever a espiritualidade budista como o permanente esforço para compreender que todos os seres, sem exceção, são budas; compreensão esta que permite a transformação no estado fundamental da vida da pessoa.

Nesse sentido, a fé não pode ser apenas um sentimento da alma humana. É a entrada do homem na realidade, "na realidade inteira, sem cortes nem abreviações".20

Na carta "Sobre atingir o estado de Buda nesta existência", consta: "A vida, em cada momento, permeia todo o mundo fenomenal e é revelada em todos os fenômenos".21

É com esse sentimento do encontro, do mergulho na totalidade do real, o olhar da fé, que devemos lançar nosso olhar sobre as religiões afro-brasileiras. Temos de vê-las em sua integralidade, sem cortes, sem abreviações. Assim, veremos serem estas tradições fenômenos constitutivos da realidade, portanto, permeadas pela vida, conseqüentemente, prenhes do Myoho-rengue-kyo. Julgá-las utilizando categorias inerentes a outras culturas, como faz o olhar do imperialismo cultural, é alimentar a cultura de guerra em vez de construir a paz.
NOTAS 1. TEIXEIRA, Faustino. Entrevista ao IHU On–Line, ano 5, nº 133, 21 de março de 2005. 2. Brasil Seikyo, edição nº 1.910, 4 de outubro de 2007, p. A3-A4. 3. IKEDA, Daisaku. Desafio de uma Nova Era — Paz. São Paulo: Brasil Seikyo, 2001, p. 186. 4. TEIXEIRA, ibidem. 5. Cf. KUNG, Hans. Teologia a Caminho – Fundamentação para o diálogo ecumênico. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 279-280. 6. BOFF, Leonardo. Espiritualidade – Um caminho de transformação. Rio de Janeiro: Sextante, 2001. 7. BOFF, Leonardo. Mística e Espiritualidade, 4ª ed., Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p. 27. 8. Questionamento de todos os esquemas, de todas as ideologias, de todas as ciências, de tudo o que pretende ser uma explicação suficiente do real. 9. JUNG, Carl Gustav. Psicologia da Religião Ocidental e Oriental. Dom Mateus Ramalho Rocha, trad. OSB, Petrópolis: Vozes, 1980, p. 4. 10. Brasil Seikyo, edição nº 1.211, 13 de fevereiro de 1993, p. 5. 11. O termo nações se refere ao local geográfico de um grupo étnico e sua tradição cultural (JENSEN, Tina Gudrun. Discurso sobre as religiões afro-brasileiras: da desafricanização para a reafricanização. Maria Filomena Mecabô, trad. REVER — Revista de Estudos da Religião, nº 1, 2001, p. 1). 12. Cada uma das divindades das religiões afro-brasileiras. Simbolizam as forças da natureza: o raio, o vento, a chuva, o mar, a floresta, a peste, a guerra, entre outras. 13. Iniciação é um ritual pelo qual alguém é admitido em uma religião ou em uma sociedade. É um conjunto de conhecimentos indispensáveis para que se possa conhecer, inteirar-se de um sistema religioso, filosófico, artístico ou, simplesmente, social. As religiões ou sociedades que adotam a iniciação são chamadas iniciáticas. 14. RIBEIRO, José. Cerimônias da Umbanda e do Candomblé. Rio de Janeiro: ECO, s/d., p. 117-118. 15. BOFF, 2001, p. 58-63. 16. Idem, ibidem. 17. The Lotus Sutra, Burton Watson, trad. Nova York: Columbia University Press, 1993, p. 117. 18. IKEDA, Daisaku. Desafio de uma Nova Era — Paz. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2001, p. 129. 19. Ibidem. 20. BUBER, Martin. Eclipse de Deus — Considerações sobre a relação entre religião e filosofia. Carlos Almeida Pereira, trad. Campinas,SP: Verus Editora, 2007. 21. Os Escritos de Nitiren Daishonin, v. 1, p. 2.
 
Fonte: Revista Terceira Civilização da Editora Brasil Seikyo
DEZEMBRO DE 2007 — EDIÇÃO Nº 472

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Hendoku Iyaku

Transformação do Veneno em Remédio
 
                      Usando Todos os Sofrimentos para se Atingir a Iluminação
 
Transformando os Desejos Mundanos, Carma e Sofrimentos em Estado de Buda
A frase, "transformando o veneno em remédio", tem origem em uma frase do Daichido Ron (Tratado sobre o Sutra de Perfeita Sabedoria), que expõe sobre "um grande médico que transforma o veneno em remédio". O Daichido Ron foi escrito por Nagarjuna, um estudioso do Budismo Mahayana que viveu na Índia durante os séculos II e III.
Enfatizando o veneno existente em nossas vidas, Nagarjuna comparou o Sutra de Lótus a um grande médico; as pessoas dos dois veículos (Erudição e Absorção) ao veneno; e o remédio ao ato de atingir a Iluminação. Neste caso, as pessoas dos dois veículos são aquelas que sofrem de uma séria doença, mas nunca poderão ser salvas através dos ensinos provisórios. O Sutra de Lótus ensina que todas as pessoas, sem exceção, mesmo aquelas dos dois veículos, podem atingir o estado de Buda.
Nitiren Daishonin interpreta este princípio de uma forma mais ampla e com um senso universal. Declarando que o ‘hendoku iyaku’ significa transformar os três caminhos dos desejos mundanos, carma e sofrimento nas três virtudes do Buda: as propriedades da Lei, sabedoria e ação.
No Budismo de Nitiren Daishonin ‘transformar o veneno em remédio’ significa polir nossas vidas e purificá-las. Isto não significa que devemos extinguir os desejos ou paixões. Em outras palavras, é possível atingir a iluminação enquanto permanecemos um mortal comum com desejos mundanos. Na carta ‘A Entidade da Lei Mística’, Daishonin declara: "Tais pessoas, que descartam honestamente os meios expedientes, depositam sua fé no Sutra de Lótus e recitam o Nam-myoho-rengue-kyo…podem transformar o veneno em remédio" (Major Writings of Nitiren Daishonin, Vol.VII, pág.64). Somente as pessoas comuns dos Últimos Dias da Lei podem provar este princípio através da fé no Gohonzon e na prática para si e em prol de outros.
O veneno representa a infelicidade e outros acontecimentos negativos em nossas vidas, enquanto que o remédio significa a felicidade e o aperfeiçoamento. Transformar o veneno em remédio significa que embora possamos enfrentar a perda, a dor ou a derrota, porque abraçamos o Gohonzon, está em nossas mãos o poder de mudar o sofrimento em alegria e boa sorte.
Ninguém gosta do veneno, mas atualmente, as pessoas geralmente sofrem por causa dele. Entretanto, o budismo nos possibilita evidenciarmos a força para transformá-lo em remédio. De fato, somos capazes de construir uma felicidade ainda maior e evidenciar um progresso ascendente através do aparecimento do veneno em nossas vidas.
Desta forma, sobrepujando todas as dificuldades e obstáculos, devemos usá-los como ventos favoráveis ao nosso desenvolvimento. Confrontando todas as dificuldades e infelicidade como um processo para a nossa revolução humana, devemos desafiar e ultrapassar todas as intempéries, e que estas sejam lições para um novo recomeço. Esta atitude de força e esperança corresponde ao princípio de transformar o veneno em remédio. Assim, mesmo que estejamos enfrentando sofrimentos em nossas existências, devemos conduzir nossa fé de tal forma, que possamos transformar o veneno de tais sofrimentos em fonte de grandes benefícios.
Fonte:
Yasashii Kyogaku Vol.7